(12E) Me(us rece)ios – Capítulo 12 (Final)

Meu receio era de não terminar essa história. Mas aqui está o último capítulo, provando que qualquer atitude vale a pena.

Me(us rece)ios

(Só para constar: o logotipo passou por uma pequena mudança)Quarta estação:
Antes do fim, tudo explicado. Confie em mim, isso será perdoado.


(Ler o capítulo anterior…)

Capítulo XII : Fevereirobanned_download_provi
Sem receios para agir

Parte I – As primeiras tentativas

Esqueça os motivos que te desanimam e desvie dos obstáculos que existem apenas em sua cabeça. Você é capaz de fazer isso, não é? É capaz de agir pelo que você realmente (acha que) quer, não é?

Claro, falando de Fernando, eu duvido. Acabaram-se as férias e ele voltou a encontrar Alana quase todo dia no terminal. Mesmo após um começo tímido, aos poucos foram voltando a aquela relação amigável, semelhante ao que existia entre os dois antes de começarem a namorar. Quando o garoto percebeu que as coisas pareciam normais, imaginou também que o desenvolvimento poderia ser igual ao daquele tempo do capítulo um (aquele em que ele só tomou coragem para pedir a garota em namoro depois que ela tomou a iniciativa e roubou um beijo dele? Sim, exato) e que a história poderia acabar em pegação namoro de novo. Então, decidiu que, até o fim do mês de fevereiro, tomaria uma atitude de verdade e pensaria em talvez falar para, quem sabe, reatar a relação interrompida com a ex-namorada.

Para não ficar maçante e para que vocês não fiquem com muita raiva do nosso personagem passivo, vou resumir os acontecimentos. Fernando até pensou em aproveitar o feriado do carnaval para chamar a garota para um passeio, um cineminha ou algo do tipo, mas acabou não fazendo isso por achar que Alana não gostaria de ser convidada por alguém que reencontrou há uma semana. Logo em seguida, foi lembrado por Rafaela de uma data chamada Valentine‘s Day e, depois que ela ficou contando de um cartão que ganhou de uma tal de Amanda (nome genérico que só vai aparecer agora)perdi a conta com quem estava saindo (cuja relação durou duas semanas), decidiu tentar algo parecido e quis comprar alguma coisa mas, além de não achar algo suficientemente interessante, percebeu que seria estranho, em um “dia dos namorados gringo”, dar um presente a alguém que mal voltou a ser amiga (e, além disso, ainda acabou perdendo o ônibus e a companhia de Alana naquele dia). Nos dias que se passaram, só faltou coragem mesmo (“Sabe como é… Não sei se era o momento certo” (nota do autor: Fernando, se a Alice ouvir você falando algo desse tipo, ela te mostra sem medo o que é o verdadeiro momento certo.)).

12e_ql_larg_reallyverysmlNesse ritmo, chegamos a um dos últimos dias do mês. Fiquem tranquilos que, se algo interessante tivesse acontecido nesse intervalo, eu teria escrito (ou não). De qualquer maneira, parecia apenas um dia comum, mais um dia em que Alana ia para o terminal de ônibus sozinha (não que isso fosse relevante – era mais raro vê-la acompanhada, principalmente se levarmos em conta que 25 dos 39 colegas de turma dela tinham alguma desavença com ela). Quer dizer… Ela iria, se uma das pessoas que queria mudar esse estado “solitário” dela não tivesse tomado uma atitude.

— Só dessa vez, Laninha… — questionou Marcos, aquele garoto meio largo e meio loiro que, pelo visto, é mais teimoso do que pensávamos.

— Você não entende o que um, ou melhor, três nãos significam? Não imaginava que pudesse ser tão ignorante!

— Por quê você me magoa tanto? Ninguém está olhando, não tem problema, só um abraço, um beijinho… — E já foi agarrando o braço dela (achando que, para mudar a resposta de alguém, basta usar contato físico).

— Você quer mesmo forçar, Marcos? Pode não ter problema para você, mas você nem pensa nos outros, não é?

Alana ainda tentou escapar, mas ele a puxou, ficando de frente para ela.

— Você também nunca pensou em mim, não é? Não entende como me humilhou em todas as vezes que me rejeitou… Então, não podia ficar comigo agora só para pedir desculpas, pelo menos? Vamos, Laninha…

A ação imediata da menina foi virar o rosto e manter o silêncio. Afinal, parecia desperdício usar suas palavras contra alguém que parecia ter invertido a ordem de quem devia desculpas a quem.

— Por que você me evita tanto… Só queria que você entendesse meu amor, percebesse que, desde sempre, poderíamos ser um casal…

Ele soltou o braço esquerdo de Alana para tentar fazer com que ela o encarasse – o que foi o momento perfeito para a defesa atacar (contraditório, não é?) interrompendo o movimento alheio.

— De novo com esse papo egoísta e usurpador, imaginando que todos querem a mesma coisa que você? Onde você aprendeu o que é amor, em um site ***** (leia-se: site com conteúdo sexual apenas para maiores de idade)? — Percebendo movimento em um cruzamento próximo, a garota começou a aumentar o volume da voz e tentou se esquivar — Não quero fazer isso. NÃO QUERO, entendeu? Já deixou de ser amor, é ASSÉDIO. Consegue deixar de ser mimado e entender que eu NÃO VOU me entregar a você?

— Laninha, não é isso… — E ele forçou mais o aperto no braço dela, se aproximando perigosamente — É o que eu sinto…

— Sente uma **** (leia-se: força de vontade agressiva) tão forte que quer me FORÇAR A TE BEIJAR? Para mim, ISSO É ASSÉDIO SIM.

Afinal, alguém parecia ter ouvido aquele diálogo nada amigável (é que este autor é bonzinho, tantas outras pelo mundo não tem essa sorte). Mesmo assim, Alana não quis esperar e usou sua mão livre (e sua unha, como de costume) para afastar aquele rosto asqueroso. Com o susto, ele a soltou e ela, que não queria ver aquele ser por mais um mísero segundo que fosse, rapidamente saiu daquela rua (meio) deserta. Nisso, ainda chegou a ouvir uma frase dita por uma voz aguda e levemente irritante:

— EU VI O QUE VOCÊ FEZ, SEU DELINQUENTE APROVEITADOR ***** ** *** **** (leia-se: JUVENIL). LEONARDO, FAÇA ALGO ÚTIL E CHAME A POLÍCIA.

Como Alana estava estressada, amedrontada, cansada e tensa, preferiu ir para casa o mais rápido possível (fazendo com que o resto da cena do que aconteceu com Marcos fique no ar). De vários problemas que já vivera, este era um que ela não queria repassar mentalmente, e desejava muito não passar por isso de novo.

12e_ql_larg_reallyverysmlDizendo apenas que “não estava confiante o suficiente para andar sozinha por aquela região”, Alana recorreu à companhia de Fernando no dia seguinte, desde o momento em que estava para sair da escola. “Ele é uma das pessoas que me parece mais confiável, neste momento”, reparou ela.

Só que, como vocês sabem, Fernando disse que tomaria uma atitude até o final do mês quanto a seu pedido de “renamoro”. Ao ver Alana mais próxima (de maneira não-física), entendeu como se fosse aquela velha intimidade retornando (e que a probabilidade de seu pedido ser aceito aumentou um pouquinho). Não que ele quisesse se aproveitar dessa reaproximação, mas… Tá bom, no fundo ele queria sim. Mesmo assim, ele também queria ser mais que um mero sonhador frustrado com a realidade e queria ter, pelo menos, a coragem para dizer o que pretendia.

Só que não nesse dia… Percebeu que a garota que pediu por sua companhia não parecia ter tanta alegria e respeitou sua ligeira antipatia (sem que isso pudesse ser considerado como covardia).

E restou apenas o dia seguinte (que acabara de chegar), pois se Fernando esperasse mais um dia, aí já seria março, sua decisão iria por água abaixo e não faria sentido ter apenas o mês de fevereiro no título do capítulo. Coragem ele [achava que] tinha (era só parar de arranjar desculpas como “ah, não falei nada hoje porque ela reclamou da matéria que a professora de história passou e eu não quis contrariá-la”), e desistiu de esperar pelo “momento certo”.

Era praticamente a hora H do dia D do mês M do ano A. Só precisava tomar uma atitude simples: abrir a boca e falar. Alana estava ao lado dele, no fundo do ônibus (que estava vazio, por sinal (e por conveniência)), ainda tinham uns dez minutos até seus respectivos destinos, e até o clima estava menos quente do que o previsto… Então, se ele não aproveitasse esse momento…

— Não sei se precisa ficar tão pensativo assim só por causa de um resumo. — interveio a garota na linha de raciocínio do amigo (ou colega, sei lá).

— Ah, eu estava… Pensando em outra coisa. — Isso fez com que Fernando acordasse e voltasse ao diálogo com a colega (ou amiga, talvez).

— Alguma coisa está te distraindo bastante, pelo jeito.

— Nada de mais…

(Silêncio)

— Ei, Alana…

— Sim?

(Momento em que Fernando percebeu que podia soltar tudo para fora (no sentido figurado que significa “se declarar”) e, engolindo em seco, começou a dizer:)

— Já faz um bom tempo que eu estava pensando nisso, e… Que eu queria falar com você…

— Sobre o quê? — Ela não estava com um bom pressentimento – Fernando parecia nervoso demais para dizer alguma coisa qualquer.

— Então… Desde que voltamos a nos falar, eu fiquei pensando em como as coisas mudaram desde o ano passado… E estamos nos dando bem agora, não é?

— De certo modo, sim. E daí?

— É que eu pensei (desafio: contem quantas vezes Fernando pensou durante esse diálogo. Quem acertar ganha uma imagem exclusiva da Taiga Aisaka de Toradora!) bastante nisso e queria perguntar se… Será que… Você pensaria em… — Pausa para formular a declaração — Como eu posso dizer…

Era bem óbvio o que estava por vir. Mesmo que um namorado pudesse ser um jeito (que não era necessariamente o melhor, mas era uma opção) de Alana evitar andar sozinha, e voltar a ter alguém em quem podia confiar (relativamente) ao seu lado… Não havia muito otimismo restando na mente dela para pensar nesse lado bom. Ela lembrou de Alice, que criou aquele triângulo amoroso; lembrou de Marcos e sua perseguição; lembrou dos sentimentos de Fernando por Alice; lembrou dos próprios sentimentos e expectativas, percebendo que, se quisesse namorar alguém, teria outras atitudes – e sabia que ainda faltava muito até que compreendesse o funcionamento do amor (que é uma coisa demasiadamente “humanas” para nossa personagem de exatas) e o motivo de duas pessoas terem algum interesse nela.

Até lembrar que Fernando ainda não tinha falado coisa alguma de namoro, parou de calcular essa rota ruim e alfinetou-o:

— Não importa o que seja, apenas seja direto.

— Tá bom, então… Alana, você voltaria a namorar comigo?

— Não.

(Suponho que essa seja a rejeição mais rápida e seca do Doze Estações.)

12e_ql_larg_reallyverysml— Afinal… Só por estarmos conversando quase todo dia, sem discussões e sem qualquer outro problema, não significa que seria fácil manter um namoro. — Desviando o olhar, Alana tornou a falar para explicar os motivos dessa rejeição instantânea. — E também… Não vejo razões para voltarmos a namorar. Se você quiser falar comigo, você pode, a qualquer hora (exceto durante as aulas, por favor), poderíamos andar juntos e sair por aí, mas não precisamos ficar dizendo “eu te amo”, nem se beijando, nem qualquer outra coisa de namorados.

(Pequena pausa para o autor tomar uma água.)

— A não ser… Que você tenha motivos para querer a mim como sua namorada. — Ao voltar a olhar para Fernando, os olhos claros dela não estavam muito piedosos — Não sei como você me olha, nem o que espera de uma nova relação entre nós, então… Por quê fez essa pergunta? Explique.

Em uma prova qualquer, se explicar a resposta já é difícil, imagine explicar a questão (na verdade, isso é tarefa para o professor). E imagine explicar a questão depois de ter a alma relativamente moída pela rejeição contida na resposta. Essa era a situação de Fernando.

— Eu só queria que a gente pudesse continuar próximo, afinal… Eu ainda gosto de você. Não queria que tudo aquilo tivesse acontecido. — foi a resposta dele, seguida de um espaço silencioso de “é só nisso que consegui pensar”.

— Isso não explica seus motivos. Como namorados, tivemos problemas de convivência, e não entendemos bem um ao outro. Você pode até gostar de mim, mas isso não faz com que eu seja obrigada a te namorar, principalmente se não corresponder mais ao seu sentimento. E qual é o problema de pensar em mim apenas… Como uma amiga?

— Não tem problema, é que… Eu só pensei que poderíamos… Fazer que desse certo um novo namoro.

— As coisas mudaram, mas estamos iguais. Se for para fazer as mesmas coisas e acabar nos mesmos erros, acho que não precisamos nem tentar. Se não há motivos para me convencer do contrário…

— Eu só… Queria falar isso.

— Já falou e eu já dei a minha resposta. Se queria apenas alguém para ficar, então perguntou para a pessoa errada.

— Não é isso, Alana…

— Então, o que seria, Fernando? — Notem que Alana estava ficando irritada (por conta das próprias suposições) — Não venha me pedir em namoro de novo se não tiver motivos para me convencer de que vale a pena investir nisso. Ou gostou de viver um relacionamento vago, beirando o fútil, com problemas (leia-se: Alice) que surgiam entre nós dois sem que pudéssemos prever?

— …Desculpa.

— Não precisa pedir desculpas.

12e_ql_larg_reallyverysmlO restante da viagem foi bem quieto e sério. Fernando não se sentiu feliz com o que fez – acabou se culpando por incomodar e irritar Alana, além de um pouco deprimido com a negativa fria que recebeu (mais pela frieza inesperada do que pelo “não”, que já era uma resposta prevista). Quase todos os pontos de amizade que tinha acumulado com ela foram perdidos, e agora… Estaria sozinho mais uma vez.

Contudo, se Fernando estava mal com o que fez, Alana estava em um estado semelhante. Rejeitar alguém relativamente próximo, sem entender por que ele queria namorá-la… Sem entender por que tanta gente (Marcos e Fernando) sentia atração por ela, a “menina do olhar gelado e da língua afiada”… (dica: fetiche por tsunderes) Será que não podiam deixá-la em paz, como ela queria? Sozinha, sem precisar se envolver em sentimentos e problemas alheios, e com poder de resolver os próprios dilemas sem ajuda de outras pessoas?

12e_ql_larg_reallyverysmlParte II – As reflexões inseguras

E agora, qual deveria ser o próximo passo? Fernando nunca foi rejeitado antes e não fazia ideia do que faria dali em diante (além de seguir sua vidinha – coisa que certos rejeitados deprimidos não lembram que existe além de uma (ideia de) relação). Não queria insistir até Alana mudar de ideia (ao contrário de Marcos, ele se conformou e respeitou a opinião da garota), só queria saber se ela ainda suportaria olhar para a cara dele (depois daqueles comentários… Provavelmente não, pensou ele). Além disso, se não fosse pedir demais, ele gostaria também de um lanche natural com pão integral e carne de soja e de algum ombro amigo para chorar lhe fazer companhia.

Nesse momento, foi hora de perceber que Alice ainda não fez nenhuma de suas aparições surpresas neste capítulo. Era incomum ficar por tanto tempo assim sem esbarrar com a garota, sem que ela o provocasse ou desse conselhos a ele. Talvez, naquele momento, fosse o tipo de evento que ele esperava.

— Se você espera por isso, Fer, então por que não cria este evento?

Lendo os pensamentos do garoto (ou, talvez, lendo essa narrativa (que é o que eu acho mais provável)), Alice observava o movimento da escola. Mais especificamente, observava o movimento de certas pessoas pela escola, desinteressada na aula que começaria em poucos minutos, e pensava em como os dias estavam tão desmotivadores.

Estando em um lugar quieto além do pátio, continuou a murmurar seus próprios pensamentos, sem o costumeiro sorriso:

— Estou esperando sua lembrança sobre minha pessoa voltar, só para ouvir você contar o que já percebi. Porém, também posso te elogiar… Posso te acalentar… Você pode notar que estou sempre disposta a te fazer companhia, Fer, basta que você permita. Basta que você abra um espaço para que eu mostre quem sou…

Antes de retornar ao semblante sério, um pequeno ar de riso.

— Será que, falando assim, posso fazer com que ele me note de novo? Ou melhor… Será que eu teria coragem de dizer o que sou de verdade? É só agir, não é?

“É só deixar esse autocontrole idiota de lado. É só arrancar essa fita (no sentido literal, de uma fita azul que ela usava para prender o cabelo naquele dia) chata da minha cabeça. Já fiz isso e deveria fazer de novo, pois tenho muito o que dizer a ele. Era isso que o Wi (nome, ou melhor, apelido nem tão genérico que só vai aparecer nesse capítulo)perdi a conta + 1 gostaria que eu fizesse, não é?”

— Eu só quero me redimir, Fer. Percebi que você teve essa vontade, então por que não sai de seu mundinho acomodado e me procura? Afinal… Eu também quero um pouco dessa sua atitude, dessa sua vontade de não terminar sozinho.

(Nota do autor: se vocês não estão entendendo, ignorem e deixem a Alice em seus próprios pensamentos por enquanto. Daqui a pouco acontece alguma coisa.)

Desde o retorno às aulas, Alice permaneceu distante de Fernando. Tendo uma boa noção de como ele agia, podia evitá-lo sem problemas. Entretanto, não podia evitar de observá-lo de longe (leia-se: stalker), e de perceber as mudanças no comportamento dele: a relativa satisfação ao reencontrar Alana no terminal, após alguns dias em que voltara de carro com a mãe; depois, dias seguidos de frustrações e um ligeiro remorso quando não tinha abertura para falar com a ex-namorada sobre namoro; mais tarde, uma certa aura determinada…

E, ainda longe, observava nesse dia a culpa no perfil do garoto, além do olhar cabisbaixo de quem ouviu mais que um “não, mas ainda podemos continuar como amigos!” acompanhado de um sorrisinho de quem tenta esconder a surpresa e o desgosto. Alice sabia bem que Alana não era do tipo que diria isso e que sorriria para alguém que acabou de rejeitar. Conhecendo o amigo que tinha, sabia que esse era o primeiro dia de vários em que ele ficaria com medo de tentar algo diferente, por ter perdido a segurança relativa que tinha. Isso implicava mais tempo sem que ele tentasse procurá-la, concluiu Alice.

Pelo visto… Ela teria que impulsioná-lo a agir de novo. Sem pensar tanto (mas sem se esquecer de sorrir levemente), apanhou o celular no bolso.

12e_ql_larg_reallyverysml“Não deixe seus receios serem maiores que sua vontade” foi a primeira mensagem que Fernando recebeu. Logo em seguida (depois que ele, discretamente, abaixou o volume do toque (por nunca ter imaginado que receberia mensagens no meio da aula (êeee, pessoa sem amigos…))), outra mensagem chegou: “Como você pretende seguir carregando esse desânimo, Fer?”. Ao ver a remetente e perceber algumas coisas (1.: “Alice, você está viva?”, 2.: “Alice, como você sabe que estou desanimado, se não nos vemos há mais de um mês?”.), motivado um pouco pela necessidade carência saudade, ligou para ela depois das aulas, esperando ser atendido (e, de preferência, de algum jeito normal).

Só que Alice, mesmo depois de algum tempo de distância, não deixaria de ser… Alice. Após alguns toques, ela atendeu, mas não foi com “alô”, mas sim após um acorde de violão.

Eu estava aqui o tempo todo, só você não viu(cantado, com acompanhamento)(para quem não conhece: Na Sua Estante, da Pitty)

— Ah… Alice? Desculpa por atrapalhar seu ensaio…

— Não precisa se culpar pelo que não fez, Fer… Afinal, você não me incomodou em algo que não era um ensaio. O que importa é que você agiu, e deve ter motivos para ter me ligado agora.

— Eu só… Queria conversar.

— E só agora percebeu que não precisava ter receio de me procurar, Fer? Ainda não tinha percebido que meu mundo não pode, ou melhor, não vai te rejeitar? E vai ficar satisfeito com um mero telefonema ou prefere que eu vá ao seu encontro?

— Não precisa…

E quem eu quero está tão longe, longe de mim… (de novo, cantado e com acompanhamento)(now playing: Eu quero sempre mais, Ira! & Pitty) Se esse fosse o caso, seria um motivo para não querer minha companhia física (entenda como quiser). Porém, estou mais perto do que você imagina, Fer.

— O que isso significa? — “Vai que é mais uma figura de linguagem…”

— Fer, não precisa estranhar tudo o que eu falo. Estou disposta a te ouvir, e se você esperar que eu te encontre… Estarei no portão da escola em alguns minutos.

E assim, a ligação foi encerrada e Fernando não tinha o que argumentar. Bem, concluiu que seria bom conversar com uma amiga.

12e_ql_larg_reallyverysmlNo parágrafo anterior, após aquela conclusão, em nenhum momento passou pela mente de Fernando que a primeira coisa que Alice lhe perguntaria (depois que ele perguntou sobre o fato de ela saber tocar violão e ela respondeu que era um hobby que estava retomando) seria:

— Agora… Que tal sairmos juntos, Fer?

— …Para onde? — Não teve como ocultar a hesitação de “qual é o verdadeiro sentido desse sair juntos, Alice?”.

— Você não queria conversar comigo? Então, é perceptível que aqui (portão da escola em horário de saída) não é um lugar muito apropriado para uma conversa… Além disso, não custa dar um passeio, não é?

— Está bem…

Pela animação de Alice, o garoto ainda tinha suas dúvidas sobre o tipo de lugar que estavam indo (Lanchonete? Praça? Parque? Beco escuro? *otel?)… E o ar de riso que ela deixou transparecer como resposta deu trouxe mais curiosidade a ele.

— Como sempre, concordando com o que eu proponho… Iniciando a conversa que você queria, será que esse seu “está bem” reflete o que você está sentindo de verdade, Fer?

— Então… — “Não” foi o que o olhar baixo dele respondeu.

— Arrependimento por alguma atitude que não tomou? Ou… O contrário?

— É que…

Momento “Fernando explicou para Alice que foi rejeitado após pedir sua ex-namorada Alana em namoro de novo no dia anterior e Alice quis saber se ela apresentou motivos para tal rejeição”. Nada muito relevante.

— Então… Foi isso que aconteceu, ou melhor, foi assim que você agiu.

— Foi…

— Sabe, Fer, se você queria apenas agir, então não há motivos para ficar frustrado. Seu mundo ainda pode se recuperar desse abalo. Por outro lado… Há vezes em que não basta apenas tomar uma atitude, mas também é preciso saber o motivo de ter essa atitude. Ela te questionou isso, não foi?

— Sim, mas… Eu não soube o que responder.

— E agora, o que você fará?

— Hã?

— Desde o começo do dia, você não parece muito animado. — “Eu percebi isso de longe, Fer”, expressou Alice com ar de quem manja do assunto — Por enquanto, não adianta pensar no que foi feito e no que não deu certo, apenas entenda que você teve a coragem necessária para fazer o que tinha vontade. Pense nos próximos passos e em como vai lidar com eles. São novas escolhas, Fer.

— Eu sei, mas… Agora não sei se ela ainda vai querer falar comigo…

— Nesse caso, Fer, qual é a sua escolha? Quem você acha que está errado? Você, que agiu e expressou o que tinha decidido, ou ela, que justificou sua decisão com sinceridade?

— Acho que sou eu…

— Por quê?

— É que eu acabei irritando a Alana, falando sobre namoro sem me explicar direito…

— Se você for analisar por um mundo restrito como o dela, é um ponto considerável. Porém, estamos no nosso mundo, levemente mais tolerante e que compreende certos trejeitos e fraquezas sem penalizá-los. A culpa não precisa recair sobre você só por causa de uma atitude impensada.

— Mesmo assim, será que ela não vai ficar com raiva de mim, ou será que ela não vai tentar me evitar?

— Se você tiver coragem para tornar a falar com ela, pode descobrir. Reveja seus motivos e torne a impulsionar seu mundo, explicando sua ação. Aliás, Fer… Mesmo que não pareça, qualquer atitude que tomamos tem seus motivos…

Enquanto caminhavam, Alice chegou mais perto dele. Para Fernando, um gesto meio provocativo, mas não tão intenso. Para ela, uma proximidade mais confortável para aliviar a dor que a próxima pergunta causaria.

— Sendo assim, reflita: quais são os seus motivos para pedir aquela garota em namoro? Você pode até ocultar esses motivos de mim, caso não queira que eu ouça, mas… Seja sincero consigo mesmo, Fer. E permita que eu te ajude a se entender.

12e_ql_larg_reallyverysmlPor que ele pediu Alana em namoro? Era simples de responder, foi porque ele… Gostava dela? Sim, provavelmente foi isso: ele precisava declarar isso de algum jeito. Talvez… Compensar o que não fez há seis meses, tentar se redimir com a garota de algum jeito. Acima de tudo, tomar uma atitude que não o deixasse arrependido (na mente dele, essas confissões amorosas adolescentes eram os piores testes de coragem). Aliás, não foi aquela mesma Alice que disse para ele “mudar o próprio mundo”? Admitir o que sentia e conseguir expressar isso era um bom exemplo de mudança… Desde que ele conseguisse lidar com os pontos mais complicados disso.

— Pronto, Fer? Pelo visto, seus pensamentos não permaneceram tão quietos dessa vez. — Alice parecia ligeiramente curiosa naquele olhar.

— Pois é… — “Realmente, sempre tem algum motivo”.

— Não precisa apresentar suas conclusões para mim, apenas organize-as. Encontrou motivos que justifiquem suas ações nesse caso?

— Até que sim.

— Você se preocupa com a reação e teme o erro, a rejeição… Mesmo assim, você conseguiu sair de seu mundinho fechado e confrontar outros problemas. Achou desconfortável? Acha que pode suportar mais dessa dor?

— Não foi bem como eu queria, mas… Pelo menos, foi. — “Pois é, eu agi”.

— Então, Fer… Foi uma aposta válida para você?

— Mais ou menos… — “Não ganhei nada além de um não (bem frio e seco, por sinal)”.

— Se você pode não ter conseguido os melhores resultados nessa tentativa… Que tal lembrar de quantas vezes você citou os sentimentos do outro lado da situação, Fer? Afinal… Em vários momentos, os mundos alheios são mais excitantes do que o nosso lugarzinho de sempre. Preste atenção nisso.

Fernando nem tinha prestado atenção, então demorou uns instantes para perceber que chegaram a alguma rua que ele nunca tinha ido antes. Contudo, Alice respondeu a ele antes que alguém per…

— E… Bem-vindo à minha casa, Fer.

…guntasse onde estavam. (detesto quando meus personagens me cortam.)

12e_ql_larg_reallyverysmlParte III – Os impulsos contidos

Ignorem o fato de que a casa estava vazia (o que é realmente conveniente, tanto em animes quanto aqui) e vamos pular os trechos de descrição do local (que era uma casa meio antiga em um terreno meio largo) para a continuação da conversa, após Fernando questionar por que foram para lá e Alice responder que “era mais privativo”.

— Fique à vontade, Fer… Meu quarto é um local onde podemos ter certa liberdade. — Isso seria menos estranho se ela não estivesse sorrindo provocativamente.

— Vou tentar… — Ele não queria (e não deveria) baixar a guarda, mesmo estando sentado em sua cama (a pedido dela).

— Lembre-se do que eu disse agora há pouco: nem sempre é bom se isolar em seu próprio círculo. Olhe ao redor, perceba todos os elementos novos e desconhecidos… E perceba que não é necessário agir para vê-los.

— E o que isso quer dizer, Alice? — “Será que esse quarto (comum demais para ser o quarto dela) tem alguma coisa escondida?”

— Já prestou atenção em quantas coisas acontecem ao seu redor a cada milésimo de segundo, ou já tentou contar quantas decisões uma pessoa precisa tomar para dizer um simples “bom dia” para você, Fer? Mesmo que você não perceba, acontece, sem sua intervenção e sem que você saiba que acontece.

(Momento para um pensamento de Alice:)

“Você não conseguiria entender meus motivos e meus receios (olha, o nome da história apareceu na história!) para te trazer aqui… E você não sabe quantas decisões eu tomo só para não acabar me arrependendo mais tarde.”

(Fim do pensamento de Alice. Voltamos às falas dela.)

— Aliás, você não percebeu mudanças no comportamento da garota que ouviu seu pedido de namoro recentemente? Ou estava fechado demais em suas próprias preocupações e anseios para perceber isso?

— Bem… Ela tinha ficado mais próxima, e me esperou depois da escola nesses dias. Disse que não queria ficar sozinha… — “Eu percebo o que acontece ao meu redor, está bem? Não sou tão antissocial assim”, defendeu-se ele.

— Afinal, há três dias, uma garota sofreu uma tentativa de estupro após a escola, segundo alguns boatos. Outras fontes dizem que ela realmente foi estuprada, e certos exagerados declararam que não foi estupro, foi sequestro. Porém, filtrando-se os canais, descobri que foi um ato de assédio.

Fernando sentiu-se desinformado (embora a atitude de Alana e de outras garotas da classe dele, como ele se lembrou naquele momento, fizessem certo sentido agora) e pensou que, supondo que fosse uma garota, não gostaria de andar sozinho.

— Um caso isolado, motivado por argumentos passionais. — Continuou ela, após se levantar, para tranquilizar o amigo e sua súbita preocupação — Apenas uma pessoa foi afetada, e a chance de que isso aconteça novamente é mínima (digamos que, além da polícia, uma certa pessoa chamada Laís Vieira foi suficientemente cruel com o sujeitinho chamado Marcos… Tão cruel que, no dia seguinte, ele se transferiu para um lugar bem longe dela (descobriu que garotas não eram tão submissas quanto ele pensava)). Mas é um fato que a insegurança de qualquer pessoa aumenta após um evento desses, e a tendência é que busquem abrigo perto de alguém em quem confiam… Mesmo que não seja alguém tão próximo, já é um ponto de apoio.

— Então, Alana ficou meio receosa com isso? — Questionou ele.

Alice preferiu aproximar-se dele antes de responder (claro, mantendo uma certa distância (embora com um contato visual assombroso)).

— Digamos que sim. Porém, buscou alguém que, segundo o próprio julgamento, pudesse suportar algo que ela não pretendia dizer o que era, servindo eventualmente como um apoio emocional. Esse alguém escolhido foi você, Fer… Só que você não satisfez as expectativas dela. Você foi o suporte que quebrou, derrubando o que nem sabia que levava.

— Mas… Eu nem sabia o que ela queria…

— E se você soubesse, Fer? O que teria feito? Nem sempre uma boa atitude significa que você precisa agarrar a pessoa pelo braço e fazer com que ela te ouça.

— Eu não faria isso…

— Por outro lado, uma atitude de omissão não é tão apreciável.

— Então, o que eu deveria ter feito?

— Sabe, Fer, nem parece que foi você a pessoa que reparou na aproximação dela. Para uma pessoa que mantém distância de outros na maior parte do tempo, outros gestos devem ser percebidos como estranhos. Assim, talvez fosse possível de notar que coisas aconteceram (cuidado com o tipo de “coisa” que você leu aqui) e deixar que ela te contasse sobre esses eventos, após retomar a proximidade e reconquistar a confiança.

— Então, eu deveria ter perguntado o que aconteceu com ela?

— Se você acha que ela te responderia, então era uma das possibilidades. Outra possibilidade era apenas respeitar o espaço dela e esperar. Estamos lidando com pessoas além do nosso ego, então… Você não teria como saber a reação dela sem… Experimentar alguma ação.

Num movimento rápido, Alice sentou-se ao lado dele na cama (Classif. Etária/R:13+).

— Afinal, Fer, foi você que a namorou durante seis meses, não foi? Deveria conhecê-la bem o suficiente para saber como lidar com isso, como agir… Mesmo que outros seis meses tenham passado desde então, não podemos dizer que ela mudou consideravelmente. Pelo menos… Não tanto como você.

— Mas… Eu não mudei, Alice. E eu só não sabia o que tinha acontecido.

— Você tomou a iniciativa. Não acha que isso é um ponto diferente na sua história de vida?

— Mesmo assim… Eu demorei para agir, e não deu certo…

— E por que acha que te chamei até aqui, Fer? Para ficar relembrando que você foi rejeitado? Lembre-se que, em nenhum momento até hoje, eu te rejeitei. Lembre-se também que isso não é o fim de tudo, mas apenas o meio (olha, o enredo da história foi citado na história!). E é por isso que estamos aqui, lado a lado… Para pensar no que pode acontecer agora (EITA)(R:14+).

Ela conteve o impulso de segurar a mão de um Fernando (meio intrigado com a fala anterior dela) (Alice já está segurando impulsos demais… Se continuar assim, daqui a pouco (Spoiler? Não dessa vez) vai “explodir” (R:16+)) e apenas comentou:

— Você tem vários caminhos… Primeiro, lembre-se de que a Alana não é a única rota disponível (tradução: “Você está no meu quarto, estamos sozinhos em casa. Se você estiver a fim, podemos fazer qualquer coisa(R:18+)), existem milhares de oportunidades a serem observadas, Fer. Porém, se acha que ela é a sua true route (leia-se: “alma gêmea” ou “amor verdadeiro”), você tem a opção de repensar suas atitudes com ela.

— Pedir desculpas? — “Alice, depois me explique o que são esses negócios de route”.

Repense. Você fez algo indelicado a ela, algo que te fez culpado? Se não fez, então pedir desculpas é desnecessário. Ao invés disso, aja por outros meios: se ela pediu motivos, explique seus motivos; se ela espera algum gesto, faça esse gesto. E Fer… Se for pensar muito antes de qualquer atitude, pense primeiro nela, e não em você.

“Eu sou a pessoa errada para dizer isso, e preciso me desculpar contigo depois. Logo você vai entender, Fer.”

— Não foi você que a pediu em namoro? — Alice queria que ele pensasse nisso sozinho, mas, como estava falando com Fernando, entendia que precisava impulsioná-lo — Você gosta dela o bastante para querer compreendê-la? Você se importa com ela o suficiente, e largaria tudo pela felicidade dela? Você poderia declarar que a ama, sem remorsos ou incerteza? Poderia revê-la depois de sessenta anos e ainda responder sim a todos esses itens?

“Ou pelo menos, enquanto estiver por perto… Conseguiria sentir esse amor tão forte como o que eu ainda sinto, e poderia declará-lo para quem você achar que merece recebê-lo?”

— …Não sei dizer. — Foi profundo demais para Fernando. Não era algo para responder por impulso, sem pensar com calma. Na verdade, era como se a vida (romântica) dele dependesse daquelas respostas (Nota do autor: Fernando, lembre-se do capítulo nove e pare de levar as coisas tão a sério).

— Então, entenda isso como o impulso que você queria. Use isso em favor de seu mundo enquanto ainda tem força para movê-lo, pense bastante e aja como desejar. — Ela tentou motivá-lo com o olhar.

— Mas… Eu não sei se consigo… — Êeee, baixa autoestima…

Para tentar elevar a moral do sujeito, Alice, com gentileza (sim, ela pode ser gentil!), envolveu-o com os braços, em um abraço por trás (apoiadores do casal Alice x Fer, esse momento é para vocês)(R:12+).

— Eu acredito em você, Fer. Você provou para mim e para Alana que pode fazer alguma coisa quando quer, não é o suficiente? Só gostaria que se lembrasse de algumas coisas em suas decisões.

— Está bem… — Realmente, essa atitude da garota o animou. — Vou pensar no que você falou, e… Que tipo de coisa eu tenho que me lembrar?

— Uma delas é: lembre-se que não se fala apenas pela boca. Gestos e olhares podem dizer mais do que a pessoa quer revelar. — Nisso, aquele autocontrole começou a falhar e Alice aumentou a força do abraço (Eita²)(R:16+) — Outra delas é: não se acomode em uma situação desconfortável. Se algo não acabou como você esperava, nada te impede de tentar chegar ao resultado por outro lado. — Agora, ela fechou os olhos — E, por último: nunca abandone alguém que realmente se importa contigo. Ou seja… Por favor, Fer, sempre que precisar, ou mesmo quando não precisar, lembre-se que eu ainda estou aqui, nem que seja só para falar um “bom dia”. Afinal…

Como lidar com isso? ³ “Será que eu deveria prosseguir?”

“Eu tenho certeza de que poderia largar tudo mesmo só para te ver feliz… Sei que é clichê dizer isso (e ainda no último capítulo), mas eu realmente te amo, Fer. Não vou cansar de dizer que te amo.”

12e_ql_larg_reallyverysmlFernando entendeu o recado (mesmo que Alice não tivesse concluído oralmente o “afinal” e, com um sorriso meio animado, tivesse terminado o abraço oferecendo comida logo em seguida)(R:L). Tinha uma amiga (olha a facada nos sentimentos alheios – apoiadores de Alice x Fer, peço desculpas por isso) para contar, e tinha os próprios sentimentos para organizar. Em primeiro lugar, precisava de coragem para encarar Alana, e depois… Precisava pensar no que ela gostaria de ouvir. Porém, aquele encontro com Alice ajudou-o a se animar e a enxergar o mundo de alternativas após uma rejeição.

Alice, por outro lado… Não conseguiu aproveitar aquele evento para fazer algo que tanto queria (derrubar Fernando na cama, tirar a roupa dele e CENSURADO? (R:18+) Não é bem isso). Sabia que tinha que ficar feliz por ter conversado (e, depois, almoçado) com ele, depois de tanto tempo de distância, mas… Será que, tempos atrás, ela ficaria satisfeita só com isso?

Não.

12e_ql_larg_reallyverysmlParte IV – Os ideais incertos

Uma nova semana após todo aquele evento. Se Fernando pensou nas suas preocupações, nos motivos para suas ações e na razão de ele ter que estudar matrizes, não importa – ele não é protagonista dessa parte.

— Tem um tempinho para conversar, Alana? — Alice bloqueou o caminho dela logo na porta da classe.

— Depende. Seria uma conversa sobre o quê? — “Aposto que ela quer falar do Fernando”, pressupôs a garota, sem muita paciência e pensando no horário.

— Sobre suas atitudes, e sobre as minhas. Sobre o que fizemos e sobre o que podemos fazer de agora em diante em nossos mundos. — Se você olhasse apenas para o sorrisinho simpático de Alice, parecia uma cena de slice of life (vidinha cotidiana) em que conversariam sobre uma série ou filme que passou na televisão no dia anterior, como amigas de longa data.

— Parece longa demais. Fale comigo outro dia. — E Alana cortou esse climinha de amizade slice of life nesse instante.

— Bem, enquanto você adia um evento como esse, os riscos aumentam… Faz parecer que você consegue ter certeza absoluta de que teremos outro dia melhor para uma conversa… Sendo mais específica, faz parecer que você não duvida de que estará aqui amanhã.

— Realmente não duvido, a probabilidade de não estar é bem pequena. O que você pretende e por que já veio com esse assunto?

— A verdade é que prefiro que conversemos logo. Se não penso no futuro, é por estar ocupada criando o presente agora, e posso te explicar esse pensamento meu… Que tal entrarmos? Acho melhor do que permanecer nesse corredor.

— Sei que você não se importa com opiniões alheias, mas não quero.

— Prometo que não faremos nada inapropriado, e tentarei ser breve. — Agilmente, Alice deu alguns passos em direção ao interior da sala, agora vazia, e virou-se para encarar Alana — De qualquer maneira, assim como não quero ter meu motivo de vida prejudicado, também não quero prejudicar o seu… Aliás, o que te motiva a viver, Alana?

12e_ql_larg_reallyverysml— Só o fato de eu estar viva e poder pensar no que quero fazer da minha vida já é um bom motivo. — “Esse tipo de pergunta foi mais estranho do que eu esperava.”

— Uma boa resposta… Porém, realmente implica que você não duvida do amanhã. E se, de repente, tudo no seu mundo mudar? E se algum evento inesperado abalar essa estrutura fixa, planejada, de um jeito irreversível? Pode prever isso com seus cálculos, Alana?

Alice recuou mais um pouco. Alana permaneceu diante da porta.

— Não sou vidente para querer saber do futuro, apenas gosto de ter uma noção do que posso encontrar. Por exemplo, tenho certeza de que sairia mais cedo se soubesse que você viria me procurar.

— Detesto dar avisos prévios e detesto planejar eventos. Se estou aqui agora, é porque tive vontade de passar por aqui e te procurar, e encontrar você foi minha boa surpresa, Alana… Entenda isso como minha demonstração de que, mesmo que você me odeie, eu gosto de você.

12e_ql_larg_reallyverysml— Que declaração foi essa? — “Essa daí quer alguma coisa de mim, e coisa boa não deve ser” — Virou lésbica agora? Ou quer me provocar?

Achar atraente (R:12+) não deve ser comparado a gostar (R:13+), que é diferente de amar (R:14+) e de querer levar para a cama sem roupa para buscar prazer (R:18+), Alana. Você me interessou mais do que eu esperava quando te conheci, no tempo em que ainda era a namorada do Fer, mas nem tanto a ponto de diminuir o amor que sinto pelo Fer, e também não me fez sentir desejo por você. Porém, acho que um experimento (espero que vocês ainda se lembrem dos tipos de experimento de Alice) não faria mal se fosse do seu interesse…

— Recuso a oferta.

— Então, proponho uma conversa como amigas que poderíamos ter sido, e proponho um questionamento sobre nossas atitudes. Não precisa ter medo de entrar.

— Não me considere como uma amiga. — Alana atravessou o batente da porta, mas ainda manteve uma boa distância de Alice, desconfiada. — E o que quer falar sobre atitudes?

— Primeiro, o motivo real que te levou a rejeitar o Fer há alguns dias, e o que você sentiu ou ainda sente por ele?

Alana já previa essa pergunta – afinal, se Alice aparecia na frente dela, era porque Fernando tinha dito ou feito alguma coisa antes. No presente caso, o pedido de namoro.

— Não vou começar a namorar com alguém só porque essa pessoa quer “proximidade” e porque ela “gosta de mim”. Se não fico mais tão confortável perto dessa pessoa, e nem gosto mais dela, então não. E também não sou do tipo que namora qualquer um só para “passar o tempo”.

— Então, pode afirmar, com certeza, que não gosta dele… Mas pode afirmar que o odeia, Alana?

— Lógico que não. Podemos conversar, mas não quero mais namorá-lo, simplesmente isso.

— Então, poderia pelo menos ter dito algo a ele sobre os problemas que você vivenciou recentemente, antes de rejeitá-lo… Mesmo que ele não tenha admitido ou comentado isso como motivo, ele percebeu sua alteração de humor após aquele caso de assédio. Não é um bom sinal?

— Se realmente tivesse notado (ou melhor, tivesse lido minha mente), não teria me pedido em namoro.

— Realmente, o Fer teria esperado… Afinal, ele não queria te deixar com raiva dele, nem te incomodar com as ações dele. Porém, você não permitiu que ele interpretasse o verdadeiro estado do seu mundo mental, abrindo margem para conflitos e mal entendidos…

— Não sabia o que ele queria. Agora, espero que ele entenda que estava errado.

Essa fala incomodou um pouquinho Alice, que respondeu com um pouco mais de determinação (leia-se: “com a voz um tanto mais elevada” ou “exaltada”):

— Errado por agir, Alana? Vai culpar o Fer por ter tomado coragem e feito algo que tinha vontade, cumprido um objetivo?

— De novo, como ele pode falar que queria me namorar, mas sem dizer porquê? É essa falta de justificativa que eu acho errada.

— Alana, será que tudo para você precisa ter um motivo explícito? Se eu amo alguém e quero ficar perto dessa pessoa, ou quero que ela seja feliz, já estou mostrando meus argumentos. O quanto você entende de amor para poder contradizer esta afirmação?

— O suficiente para dizer que esse amor não explica qualquer ação.

— Então, você quer um amor racional, Alana? Espero que você encontre um plano que faça seu coração palpitar mais forte de maneira calculada e precisa. Além disso, será que você ao menos já se apaixonou, Alana? De tal modo que permitiria entregar a si mesma para o bem da outra pessoa?

— Tenho certeza de que esse tipo de coisa só acontece em filmes.

— Então, nunca teve a chance de vivenciar algo tão forte, e tão belo… São muitas as pessoas como você, e não posso te culpar. Porém, se quiser perceber como o mundo de qualquer pessoa pode mudar por influência do amor, posso narrar minha história de vida.

Não foi difícil perceber, através da expressão de Alice (algo como “Deixa eu contar, vai… Por favor, deixa, prometo que me comporto!”), que esse era o principal motivo desse diálogo. Alana relutou mentalmente por um segundo, depois consultou a hora e viu que já perdera o ônibus. Então, conformadamente, sentou-se em uma cadeira qualquer e respondeu, sem ânimo:

— Se isso for relevante para mim, melhor. Seja direta.

Com um leve sorriso e um brilho no olhar, Alice sentou-se diante da garota e, respirando fundo, começou a falar.

12e_ql_larg_reallyverysmlSei que esse parece um flashback interessante, mas não compensa escrevê-lo linha a linha (afinal, entendam que Alana vai interromper bastante, Alice vai se esquivar e dar voltas usando metáforas e outras figuras de linguagem, teria drama clichê demais (e exagerado demais para o Doze Estações) e, em geral, pode ser resumido como vou fazer agora.

Alice perdeu a mãe aos três anos, mas até aí nada de mais (eu sei, não parece ser “nada de mais”, mas vamos continuar) – teve os cuidados e a companhia de vários parentes, incluindo o primo da mesma idade (só pra constar, o nome dele é Wilson). Cresceram juntos, tão juntos que, aos treze anos, acabaram juntos de uma maneira mais séria (ou mais livre)(começaram a dar uns beijinhos e uns amassos quando ninguém da família ou nenhum conhecido estava por perto). Em sequência, decidiram que iriam se mudar para algum lugar bem longe depois que completassem dezoito anos, onde pudessem ** ***** (leia-se: namorar) à vontade (e até casar)(mas não são primos? Sim, digamos que eles ignoraram a palavra incesto e consequências disso).

Era um plano lindo, romântico e encantador, na mente de Alice. Só que, com quatorze anos, por complicações de saúde… “Não foi possível fazer com que o Wi (agora vocês conseguem entender de quem Alice estava falando no final da página 5) permanecesse mais tempo ao nosso lado… E ele levou consigo todas as vontades e sonhos do meu mundo, sendo que eu nada pude fazer…”. Resumindo, eufemisticamente, Wilson bateu as botas, ou vestiu o paletó de madeira.

Sendo uma pessoa meio dependente (demais) dele, Alice passou um ano em um estado letárgico, desinteressada na vida estranhamente solitária e sem objetivos… Até que, no começo do ano seguinte (após conhecer um certo Leonardo Klienner), adquiriu uma motivação carpe diem de fazer tudo o que pudesse e aproveitar a vida enquanto ainda vivia. Foi em um desses momentos que conheceu Fernando, e digamos que ele tinha um físico que lembrava (bem vagamente) o primo dela. Viu isso como uma segunda chance para “sentir o amor dentro dela” (R:16+), evitou pensar que estava traindo o fantasma do primo e o resto vocês já sabem por estar descrito desde o capítulo 1.

Sendo assim, encerro o resumo do que seriam umas quatro ou cinco páginas de diálogo enrolado (leia-se: parte 2 do capítulo 9) e voltamos à história integral.

12e_ql_larg_reallyverysml— O encontro com o Fer fez com que eu enxergasse, novamente, algum motivo válido para o qual focar minhas ações, me fazendo lembrar que sim, eu podia me apaixonar novamente, por outra pessoa… Reviver a sensação do amor sem precisar pensar em fugir para vivenciá-lo, nem receber julgamentos da sociedade capitalista misógina anti-incestuosa opressora (desculpem, não deu para resistir) simplesmente por querer ficar junto de outra pessoa e vê-la viver feliz (notem a ênfase).

Alice concluiu com um ar de satisfação. Se os leitores a ouviram leram e se Alana compreendeu… Na mente dela, era uma preocupação a menos, uma ação realizada a mais.

— Então, seu amor, ou melhor, necessidade de companhia, te salvou de viver uma vida comum. Linda história (senti um cinismo aqui). O que eu tenho a ver com isso?

— Você influenciou as atitudes que eu tomei até então. Quando você surgiu e agiu para criar um relacionamento com o Fer, eu achei que poderia te considerar apenas como uma variável que interferiu na autonomia dele, mas… Suas respostas sempre me intrigaram, seus métodos de ação são questionáveis, mas seus objetivos sempre são simples e seus motivos são claros, mesmo que você nem note isso. Ainda pensa que seu mundo não interfere em outros?

— De novo isso? Se você não ligasse para o que eu faço, não interferiria.

— Atualmente, você é a pessoa que está mais próxima do Fer, e a pessoa para quem o foco dele está voltado. Não há opção em que eu possa deixar de me importar com você… É a última coisa que peço: importe-se com os outros, com o Fer, talvez até comigo, mesmo que você me odeie. Pelo menos, ouça o que temos a te dizer, e não hesite se quiser dizer algo.

— Não é você que decide o que eu faço.

— Eu sei, Alana, consigo perceber seu modo de agir… Mas só queria que pensasse no que pode fazer para não deixar sua vida passar diante de seus olhos como alguma coisa vazia. Somos jovens, não somos? Podemos abrir milhares de opções de rotas a partir de qualquer coisa, por menor que seja.

— Fala como se todos quisessem apenas brincar o tempo todo. Aliás, acho que é você quem precisa ver essas milhares de rotas. Não existe apenas o Fer no mundo, sabia?

— De fato, sei que não existe. Percebeu algo em mim pela primeira vez, Alana?

Alice já previa algum tipo de ofensa direta na resposta que ouviria… E, de fato, a garota à sua frente lançou-lhe um olhar frio enquanto dizia:

— Além do fato de você ser uma covarde? Sim, percebi que ainda não conseguiu assumir que seu antigo amor (ou namorado) morreu. Justamente você, que fala para “mudar o mundo”, “fazer experiências” e sei lá mais o quê. É hora de você se olhar no espelho.

— E como acha que isso se aplica a mim?

— O que você faz não é o que você fala. — Alana percebeu que, se não quisesse perder outro ônibus (passavam a cada vinte minutos), precisava ir embora logo — Ao falar para que eu perceba o que está ao meu redor, esquece de perceber como estou incomodada. Ao falar de ações, poderia estar falando diretamente com o Fernando ou agindo em favor dele. Ao contar sua vida, poderia estar em qualquer outro lugar fazendo qualquer outra coisa para superar esse passado. Antes de sair a torto e a direito exigindo atenção, faça o favor de pensar nessas suas ações. Não importa se você pode morrer amanhã ou daqui a oitenta anos, agir racionalmente não custa caro.

Em um salto de “deixa eu sair logo daqui, cansei de te ouvir”, Alana pegou sua bolsa e foi saindo…

— Alana, é isso que pensa de mim? Se essa é a verdade e se você aceitar isso como uma prova de que eu te escutei…

— O que quer falar ainda?

— Se eu precisar de conselhos, posso te ligar ou te procurar? Sempre achei que você tinha muito a me ensinar, mas agora… Tenho essa certeza. Valeu a pena conversar contigo, Alana.

Surpresa (e ligeiramente irritada), Alana quase foi embora sem responder, mas se esquivou do problema de maneira rápida (e fria), sem olhar para a outra garota:

— Espero não receber ligações suas, mesmo sabendo que já deve ter meu número. E não me incomode nas quintas e domingos.

Para Alice, isso foi um “sim, pode me ligar, desde que respeite meus princípios”.

12e_ql_larg_reallyverysmlParte V – As resoluções sinceras

Como esse parece ser o dia dos encontros, Fernando estava sentado no ônibus para casa, aguardando a saída dele, enquanto pensava em como matrizes eram chatas de calcular e também em Alana, principalmente na atitude que tomaria se a encontrasse por aí, num acaso acidental (provocado pelo autor) como o que aconteceu no minuto seguinte, assim que Alana entrou no mesmo ônibus. Meio nervoso (ele ainda não se sentia totalmente preparado para dizer o que refletira nos últimos dias), precisou de um tempinho até processar que o único lugar livre no ônibus era ao lado dele (muito conveniente… Para o autor) e, por isso, Alana sentou-se ali.

Ela queria ficar quieta, mesmo que achasse que não seria tão perda de tempo falar com ele. Fernando estava pensando em que atitude tomar, então não respondeu ao cumprimento dela imediatamente.

— Se não quer falar, não fique me observando, por favor — Alice deixou essa garota de mau humor…

— Ah… Desculpa. Boa tarde. — Só agora que ele percebeu que não desgrudara os olhos dela. Envergonhado, virou-se para a janela.

E agora? Deveria falar sobre o tempo, pedir desculpas, ficar quieto ou já dizer seus verdadeiros sentimentos? O aparente estresse de Alana agiu como um balde de água fria sobre qualquer ideia de ação que pudesse tomar naquele momento…

Porém, outro pensamento surgiu: “Se ela está estressada, é porque deve ter acontecido alguma coisa. Será que, se eu perguntar o que aconteceu, não vou parecer enxerido demais?” Alice disse que ele deveria perceber essas coisas e agir pelo bem dela, então… Decidiu que perguntaria, afinal dizem que perguntar não ofende.

— …Ei, Alana… — começou Fernando, virando-se em direção à Alana…

E percebeu que ela cochilou ao seu lado (talvez fosse romântico (R:12+) se ela tivesse encostado a cabeça no ombro dele, mas Alana não se permitiria fazer isso).

12e_ql_larg_reallyverysmlMais uma vez, a única ação de Fernando foi a de não tomar ações. Mais uma vez, ele ficou levemente frustrado por isso. Nem para tentar ajudar a garota que gostava… Não que ela precisasse, afinal conseguiu acordar no ponto certo e nem deixou o garoto fazer o favor de acordá-la (quem precisa de um homem quando se tem um despertador que vibra no celular? (R:16+ (Why?))).

Mesmo que fosse só para ser um amigo, com um mínimo de proximidade, ele imaginava que tinha o direito de saber o que estava preocupando Alana (ou, pelo menos, era o que pretendia). Se isso fizesse com que ela se acalmasse e confiasse um pouquinho a mais nele, mesmo que demorasse um mês, já era algo bom.

Pelo jeito, Alice pensou do mesmo jeito, e resolveu basear suas ações no método “um passo por dia”.

— Quer companhia durante seu lanche, Alana? — Horário de intervalo do dia seguinte. Só Alana estava na sua classe, comendo um sanduíche enquanto lia uma reportagem de alguma revista (título: Cinco dicas para liderar um grupo de trabalho que te odeia) até Alice intervir.

— Não, obrigada. Pode ir embora.

Alice fingiu que não ouviu o pedido e sentou-se sobre a carteira (de novo: não sigam esse exemplo se quiserem ser vistos como alunos estudiosos e bem comportados) diante dela.

— Antes disso, Alana… Estava pensando sobre nossa conversa de ontem e restaram algumas dúvidas… Poderia me respondê-las?

— Ainda não se cansou? Pergunte logo.

— Não tenho motivos para me cansar enquanto ainda tenho a possibilidade de agir. — essa resposta foi acompanhada de um sorrisinho— Só fiquei intrigada com o fato de você não se sentir mais à vontade ao lado do Fer… Pelo que me lembro, vocês não chegaram a ser tão íntimos enquanto namoraram para que houvesse tal distanciamento.

— Realmente, não fomos. Mesmo assim, fomos namorados, e sempre tem certas coisas que pensamos que podem acontecer… (R:16+)

— Bem, aí está algo interessante. Que tipo de coisas passaram pela sua imaginação, Alana?

Mesmo desviando o olhar e virando o rosto (like a true tsundere), ela não pôde esconder que estava corando.

— Acho que eu disse que não penso em namoro só para “curtir”, ou para “passar o tempo”. Eu gostaria de ter vivido um relacionamento mais sério (R:18+?) e comprometido (leia-se: casamento). Claro que, se eu soubesse do que você pretendia, não teria agido dessa maneira.

— Alana… Nunca passaria pela minha mente a ideia de que você teria um pensamento nesse nível de responsabilidade… Não posso evitar de te comparar a meu antigo eu e meus antigos ideais, mas percebo que, ao contrário de mim, você é capaz de agir pelo que você realmente quer. Isso é o que eu admiro em você…

— Acho que já puxou meu saco o bastante por hoje.

— Está bem, entendo que talvez minhas palavras tenham alimentado seu ego constantemente fechado. Se você diz ser uma pessoa direta, entenda isso como a minha resposta à sua altura.

— Isso é algum tipo de piada? Está se achando a gigante do momento, não é? — Alana acabou irritada por entender isso como uma provocação em relação a sua altura física (como eu já falei no capítulo quatro, ela mede só 1,56m, consideravelmente baixa em relação à Alice e seus 1,69m).

— Se você conseguiu atrair olhares e cativar corações, então não deveria se importar com detalhes físicos. Se você conquistou seguidores que dizem gostar de você mesmo após conversarem contigo, então sua personalidade é mais uma característica que você não deve se envergonhar. Tudo isso forma a Alana que eu conheço. De qualquer maneira, você me via como uma rival pelo amor do Fer?

O olhar fixamente frio de Alana respondeu tudo, mas ela pôs em palavras:

— O que você acha?

— Então, isso mostra que até você pode abrir seu mundinho a alguns sentimentos hora ou outra…

— Está bem, talvez eu tenha sido precipitada. Não fomos rivais no amor pois, desde que eu conheci o Fernando, ele só tinha olhos para você. Provavelmente eu fui apenas um passatempo dele.

— E agora, o que você acha?

— Acho que ele deveria parar de achar que precisa ficar comigo e viver a vida dele, assim como você deveria aproveitar essa chance e seguir seu rumo. Mais alguma pergunta?

— Alana, daria uma nova chance ao Fer se ele te apresentasse motivos válidos, levando em conta seus planos de relacionamento sério (R:16+) e lembrando que os mundos e os sentimentos estão em constante alteração? Considerando também que aquele outro garoto que te incomodava foi embora após ameaças e punições e, por isso, não deve mais ser visto como um incômodo? E… Prevendo uma situação em que eu não esteja mais aqui por perto, como um problema para você?

— Se tudo isso fosse real e a probabilidade de sucesso fosse maior do que no passado, então… Por que não? — E é assim que uma pessoa calculista faz apostas — Pretende acompanhar (leia-se: suicídio) seu primo, por acaso, desistindo de agir?

— Eu não seria capaz de fazer isso, por mais que eu quisesse. — ela sempre valorizou a própria vida e decidiu viver também pelo primo — Afinal, vou seguir seu modo de vida de categorizar algumas coisas como irrelevantes. Porém, o que tornei irrelevante foi meu passado, para que eu possa focar sempre no que está a frente. Se quer um conselho, Alana… Que tal tornar os problemas externos como irrelevantes e seguir essa chance de sucesso que você citou? Juro que deixarei de ser um problema, assim como aquele Marcos já deixou de ser, assim como o Fer quer provar que não é…

12e_ql_larg_reallyverysml“A última barreira que impede seu mundo de se transformar é você mesma, Alana” foi a última frase que Alice disse antes de partir para sua própria jornada de auto descoberta (talvez R:16+) e deixar a garota lanchar sozinha… Embora tivesse perdido a concentração na revista que lia e pensasse em relacionamentos novos ou reatados, com as condições favoráveis citadas (hipótese: Fernando a ama, Alice não os incomoda mais, Marcos desapareceu). No final, concluiu ser bastante improvável e foi fazer exercícios de física ou outra matéria com contas mais exatas.

12e_ql_larg_reallyverysmlNo mesmo dia, Alice tomou uma decisão importante (para ela), e executou essa atitude assim que as aulas acabaram (de novo? Alguém tem fetiche por salas de aula vazias, pelo jeito).

— Ainda sozinho, Fer? — assim como no segundo capítulo, ela abordou o amigo quando este estava sozinho na classe, prestes a sair.

— Sim… O que aconteceu? — “Da última vez que você fez isso, foi um problema atrás do outro, Alice”.

— Talvez o que esteja prestes a acontecer (R:16+) seja mais relevante para nós do que o que já passou, Fer. Se não for incômodo para você, posso contar uma história?

— Pode… Desde que seja uma história pura (R:Livre) e que não termine com você tentando algo (R:18+) comigo aqui.

Rindo alegre (e talvez provocativa), Alice justificou-se:

— Deixo a seu critério modificar seu mundo. Afinal, se quero te contar isso, é por perceber que tudo o que fiz exige que eu peça desculpas, e tente achar resoluções a problemas ainda existentes pelos quais sou culpada indireta.

— Hã? — “O que ela fez agora, e do que ela tem culpa?”.

— Acho melhor nos sentarmos e não termos pressa com isso. Afinal, se eu puder te explicar tudo agora, assim como expliquei para Alana, nossos mundos terão menos conflitos para pesar em decisões futuras, e será mais fácil agir, Fer. Você me escutará, sabendo disso?

— Sim… Pode ser.

12e_ql_larg_reallyverysmlDigamos que, depois dessa conversa (que, basicamente, foi Alice contando a história de vida dela de novo para Fernando e acrescentando que um desejo que ela tinha era de “consumar” (R:17+) o amor que sentia pelo primo (e, posteriormente, por Fernando) quando completasse dezessete anos (o que aconteceu em novembro (capítulo nove))), Fernando entendeu por que Alice agia daquele jeito com ele. Não que ele a entendia completamente nem que considerava aqueles motivos como justos, mas… Era a explicação, cabia a ele aceitar e perdoá-la.

Para Alice… Não era essa resolução que ela planejara no início de suas ações. Talvez ela ainda esperasse uma fala romântica clichê de Fernando, dizendo que ficaria junto dela e que a amava, mas… Pretendia que aquele não fosse mais o único objetivo da vida dela. Afinal, não foi ela quem disse que a vida era curta demais para ser sempre igual, tão séria? Foi apenas uma questão de um abraço (sem beijo? Pois é, Alice não rouba beijos do Fernando em capítulos com número cujo resto da divisão por 3 é diferente de 2 (traduzindo para pessoas de humanas: sem beijos nos capítulos 1, 3, 4, 6, 7, 9, 10 e 12)) e um pulo para fora da classe. Parece que decidiu agir de maneira diferente a partir desse dia, agora livre dos fantasmas do seu mundo passado (Wilson foi exorcizado), após assumir de uma vez seus verdadeiros sentimentos e ainda querendo curtir uma paixão de maneira diferente (leia-se: indo além dos beijos e amassos (R:17+)).

12e_ql_larg_reallyverysmlE, no dia seguinte, lembramos que ainda estamos no meio das resoluções. Fernando queria, pelo menos, estabilizar a relação, querendo esquecer que pediu Alana em namoro (de novo) e mantendo uma amizade comum. Mesmo tendo percebido seus motivos para fazer o que fez? Sim. Mesmo ainda gostando dela? Sim. Mesmo com um plano realmente incontextualizável (hã?) preparado para ser aplicado se a situação permitisse (leia-se: Alana de bom humor)? Sim. Ele queria parar de pensar em namorá-la (de novo) por medo de ser chato, por medo de ela deixar de gostar dele mais ainda…

12e_ql_larg_reallyverysmlEu poderia contar a ele que Alana viu várias ações e reações ao redor dela. Como o fato raro de Alice conversar com outros garotos e mostrar mais interesse em outras pessoas e relações. Ou como a (boa) informação de que o “molestador do bairro” (leia-se: Marcos), que assediara uma garota (ou, segundo algumas falácias, estuprou vários alunos pelas redondezas, independentemente do sexo) no final de fevereiro, realmente foi embora para outra escola depois de [boatos] uma super operação policial envolvendo FBI, CIA, Interpol, BOPE e [realidade] uma garota irritante de cabelo preto com mechas vermelhas humilhando-o. E, principalmente, o detalhe que ela conhecia Fernando, sabia que aquela frustração dele não devia ser por más intenções e não conseguia enxergá-lo como uma má pessoa (e toda aquela cena da rejeição? É que Alana descontou a raiva das atitudes de Marcos em Fernando).

Havia uma probabilidade mediana de a “Hipótese de Alice Felter” ser válida, concluiu Alana. Ela poderia esperar alguma explicação de Fernando, poderia cobrar explicações, ou poderia… Deixar tudo como estava, sem mudanças.

Como lidar com isso? 4

No final da manhã, indo para casa, Alana decidiu resolver mal-entendidos. Afinal, já que não tiveram conversas decentes desde aquele dia da rejeição, era melhor tentar entender os motivos de uma vez por todas e acabar com aqueles receios incertos dentro dela. Não para mudar de maneira revolucionária, mas só para recomeçar em um ponto mais tranquilo.

E Fernando? Decidiu que, se encontrasse Alana no caminho, prestaria atenção no que ela quisesse falar (se ela ainda quisesse falar com ele, logicamente), deixando de lado suas vontades. Mesmo que Alice dissesse o contrário, ele achava que podia esperar para agir, e não precisava ser como planejara… Afinal, se ele fizesse exatamente o que tinha em mente, tudo podia mudar drasticamente.

12e_ql_larg_reallyverysmlApós um cumprimento simples na fila e após acabarem, mais uma vez, sentados lado a lado no ônibus (ah, mais um desses acasos de final de história, viu…), Alana quebrou o silêncio:

— Fernando, precisamos conversar.

Ele, que estava distraído pensando que seria mais uma viagem quieta e sem ações, virou-se surpreso para a garota (nota: se uma garota diz que “precisa conversar”, é melhor se preparar…), sem responder imediatamente. Nisso, ela prosseguiu, sem encará-lo:

— Admito que fui dura demais com você nesses últimos dias. Vários fatores externos (leia-se: primeiro Marcos, depois Alice e TPM no meio de tudo isso) me deixaram estressada, então nem pude pensar direito em tudo o que aconteceu… Mas agora estou melhor, e queria entender… O que você vê em mim, Fernando?

“Eu vejo uma garota que eu acho bonita, que eu admiro por várias coisas… Vejo uma pessoa que eu gosto de ter por perto, e que eu queria ver sorrindo com mais frequência…” Essa era a resposta que estava na cabeça dele. Engolindo em seco, então, decidiu ter atitude e falar.

(CTRL+C e CTRL+V no pensamento acima, até “várias coisas”, pois ela o interrompeu.)

— Me admira pelo quê? Não sou o tipo de pessoa que faz algo para ser admirada (embora tenha um ótimo senso de estilo e seja inteligente), e nem me esforço para ser legal, ou atraente.

— Mesmo assim… Eu te acho legal. — Hora de tentar se explicar ao máximo, mesmo não tendo preparado respostas — Também te acho bonita, talvez nem tão carinhosa, mas pelo menos você é sincera, e… Também é organizada, e sempre me ajudava quando eu tinha problemas com exercícios… Eu nunca achei chato conversar com você, e por isso só queria manter nossa relação assim, em paz…

— Eu te entendo, e por isso quis conversar. Podemos ficar juntos, mas… Por que você precisa me namorar? — Lá vem ataque… Afinal, Alana parece ter um gosto excessivo por justificativas.

— Porque… Eu não queria que nosso namoro tivesse terminado, na verdade… É que eu ainda tinha minhas dúvidas, mas eu percebi… Que gostava de você, e ainda gosto, e só queria mais tempo para que a gente pudesse ficar junto um do outro, só para passear ou estudar, ou só para conversar da mesma maneira que antes de tudo aquilo (leia-se: capítulo 6) acontecer. Não precisa ser nada de mais, e nem precisa ser um namoro, só queria que acabasse essa distância e essa estranheza… Se você não gostar mais de mim, eu entendo…

Aparentemente, ela não rejeitaria esses motivos. Ainda havia uma variável que ela queria confirmar, mas queria escutar tudo o que Fernando tinha a dizer (sim, continua):

— Só que eu percebi que vou continuar gostando de você, e eu queria poder saber mais sobre você… Não precisamos mesmo ser namorados, mas eu queria que, mesmo depois de tudo o que aconteceu, você pudesse confiar em mim, pra… De repente, se alguma coisa acontecer, poder explicar pra mim, vai que eu possa ajudar… Algum problema, ou algo bom que acontecer e você quiser compartilhar, mesmo se for você começando a namorar com outra pessoa… Eu vou tentar não me magoar com isso, se eu ver você feliz.

Isso já enchia o coração da menina de… Amor? Ela preferia pensar que era apenas o calor do momento, mas também eram algumas constatações boas…

— Fernando… Posso confiar em você, de maneira que, mesmo que aquela Alice aparecesse diante de você sem roupa (R:18+), você não pensasse apenas nas suas vontades?

— Bem… — “Que raio de pergunta é essa? Talvez eu ficasse meio excitado (R:16+), mas…” — Acho que agora ela tem outras vontades em mente, mas, se isso acontecesse e eu e você… não fôssemos apenas amigos (R:14+ (Why?²))… Já quase aconteceu e eu entendi que não era isso (R:16+) que eu queria ver acontecer entre eu e ela. Além do mais… Não teria como não pensar em você e me sentir culpado. Não é isso que eu quero.

Fernando estava sendo sério, sincero e agindo conforme o que queria ao olhar para ela e dizer aquelas palavras. Depois de refletir e entender que era essa sua decisão, não havia retorno. Para Alana, a mesma coisa: ela pretendia apostar naquele caminho que se mostrava claro diante dela. Planejado, logicamente, mas que estava enevoado antes daquelas respostas.

— Vou acreditar em você e, se você me permitir… Será que posso também te escutar, te entender, te ajudar…? Não queria admitir, mas não foi só você que ficou meio abalado quando eu terminei nosso namoro. Tem muita coisa que eu acho que poderíamos conversar (em algum lugar menos conturbado, por favor (R:14+)) e coisas que eu precisava ter sido mais sincera ou, pelo menos, situações em que eu poderia ter confiado mais em você, pensado mais no seu lado.

— Então… — Era o momento de Fernando ficar (beneficamente) nervoso com aquela situação: “Será que eu deveria tomar logo a atitude de pedir…”, mas foi cortado por Alana.

— Vamos partir de um novo começo… Não precisamos ser tão precipitados, só precisamos caminhar juntos. — Realmente, era o calor do momento (levando em conta que estamos no verão e esses dois personagens estão em um ônibus sem ar-condicionado, deve ser o tempo mesmo) impulsionando as atitudes de Alana. — Começando daqui, Fernando… Você quer casar comigo?

12e_ql_larg_reallyverysmlNovamente (como no capítulo 1), mesmo que fosse a mesma coisa que Fernando pretendia (De verdade? Sim.), Alana foi quem tomou a iniciativa. Ele aceitou, os dois riram (pedido de casamento feito por dois jovens de 17 anos em um ônibus – quem é que vai levar a sério?) e, enfim, reconciliaram-se… E aqui acabam – ou recomeçam – nossos meios e nossas ações para um belo reencontro, cujos obstáculos estavam apenas… Nos próprios receios.

Final do segundo ano, o encerramento da história,
O meio das relações de Alana, Fernando e Alice.


by ClaMAN

P.S.1: Alguém ainda esperava pelo lançamento desse capítulo? Se sim, agora é hora de festa pois, finalmente, depois de três meses de bloqueio e atrasos, aqui está! Em suas vinte páginas de pura finalização rushada!

P.S.2: Na verdade, alguém ainda esperava por algum sinal de vida de algum dos editores desse blog?

P.S.3: Este capítulo é a versão exata e fiel do manuscrito (que, por sinal, pode ser baixado em PDF pois eu estava com sono sem vontade de ficar editando e criando PDFs e redigitando as revisões). Aproveitem antes que eu revise e apague metade das coisas non sense.

P.S.4: Postagem tradicional de Halloween antes das 23h.

P.S.5: Sim, o pedido de casamento foi sério.

Autor: cslclaman

Desenvolvedor web/Java. Católico. Escrevo coisas, crio e toco músicas nas horas vagas ou quando não estou vendo animes. Copiei essa descrição do meu Twitter.

Uma consideração sobre “(12E) Me(us rece)ios – Capítulo 12 (Final)”

Se você comentar nessa postagem, o editor fará carinho em três gatos. Que tal comentar, então? É de graça!

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.